quarta-feira, 10 de março de 2010

Autonomia de vida



Outro dia peguei um táxi e, como de costume, puxei papo. Adoro a classe, apesar de achar que corrida de R$ 19 tem que ter o troco de R$ 1. Algo que muitos desconsideram ou fingem que. Também reprimo preços fechados para turistas visitarem o Corcovado – aqui pertinho da minha casa nas Laranjeiras – o que torna o assunto recorrente nas minhas corridas, já que meu costume é subir pra pegar o Rebouças, passando em frente ao cartão-postal.

Posto isso, gosto dos caras. Mas o papo da autonomia me tira do sério. Neste dia, que falei lá na primeira frase, o moço me contou que ele é o ‘motorista-auxiliar’ e aluga o pacote: direito a ser ajudante do proprietário e, com isso, usar o automóvel. Entendi, entendi. O dono do veículo não utiliza seu direito conquistado junto à Prefeitura de ‘autônomo-titular’. Sabe lá se é assim que eles se autodenominam.

Então, o que faz o cara? Aluga por R$ 2,6 mil o pacote pra este motorista-meu-amigo, que trabalha umas 12 horas diárias pra fazer mais uns R$ 2,5 mil. Cuma? Então, conseguir da prefeitura a autonomia já lhe dá quase o sustento? Daí, ele compra o carro e pega um desempregado desesperado pra gerar sua própria receita. Desculpa, não entendi. Não seria esta autonomia uma autorização para a pessoa ser taxista? Talvez não. Primeiro o cara compra o carro e depois aguarda promessas de campanha de que serão oferecidas mais autonomias pela administração pública. Isso me cheira a Tostines (é fresquinho por que é bom ou...). Se o sujeito precisa de carro pra ter autonomia, como vai conseguir os auxílios garantidos por lei pra comprar um automóvel-táxi?

As respostas são várias e há muitos anos se debate o problema. Ele, apesar de velho, não me desce goela abaixo. Pra mim, motorista-titular é o que trabalha. E ele tem (ou deveria ter) como provar isso na Justiça trabalhista. Neste caso relatado, o moço me mostrou toda sua organização, com anotações sobre quilometragens e gastos com combustível.

Mas o motorista-amigo não suporta mais trabalhar por dois. Vai vender sua casa pra comprar uma autonomia (como assim?), um carro e passar apenas a pagar as prestações do automóvel. O sonho dele é ter um Meriva, como manda agora a ordem da praça.

Sugeri, quase na porta de casa, que ele procurasse a Defensoria Pública – quem sabe uma assessoria gratuita jurídica o auxiliaria a ter o direito a uma autonomia e só ficar pendurado pela aquisição do carro? Ele não acredita na Justiça e nem no auxílio jurídico. Assim como muitos outros brasileiros, meu amigo taxista só crê que para ser cidadão neste país é preciso ter grana, muita grana.

2 comentários:

  1. Eu ja peguei um que dizia que a autonomia rende mais do que apartamento, que pobre agora comprava autonomia, para alugar, e continuava morando de aluguel...é a nova era: foi-se o tempo do carnê do baú ou sonho da casa própria. malandro agora quer é ser patrão do próprio táxi! vamos fazer uma matéria? que tal?

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  2. Sou como vc, puxo logo um papo e morro de pena quando o taxista me fala que aind falta tanto pra completar a diária.Só que dou sempre,nestes casos, o trouco que seria meu,afinal, sou funcionaria pública aposentada (risos)

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