sexta-feira, 12 de março de 2010

La Retirada, o triste destino de espanhóis na França



A gerente da minha conta bancária de Perpignan ao saber que meu ofício é o jornalismo, me contou parte de uma história pouco divulgada e muito triste da França. Neta de espanhóis, ela me relatou detalhes de La Retirada, que estava completando 70 anos, em 2009, e seria relembrada com manifestações de várias naturezas. Entusiasmada com a história, contei tudo pro Alexandre e fomos atrás destes eventos pra vender a matéria para alguma revista especializada. O frila nunca emplacou, mas a gente aprendeu um bocado e se emocionou com os relatos, as fotos e as manifestações.

Em 1939, com a queda de Barcelona - último foco de resistência a Franco, que caiu em 26 de janeiro – e o fim da Guerra Civil Espanhola, aconteceu o que muitos estudiosos consideram a maior fuga em massa daquele país. Meio milhão de espanhóis fugiram, muitos a pé, através das montanhas geladas dos Pirineus, em pleno inverno, procurando abrigo no país vizinho. Ao chegarem à França, porém, a acolhida foi em Campos de Concentração, nas localidades de St-Cyprien-Plage, D’Argèles-sur-mer, Gurs, D’Agde, Septfonds, Vernet e Bram.

Seguindo as orientações da minha gerente, o casal Justo-Arruda fez parte de uma marcha, com cerca de 1.500 pessoas, entre a prefeitura de Argèles e a praia, onde estava sendo gravado um documentário e havia uma pequena cidade cenográfica – no exato local de um dos campos de concentração. Ali foi deixado um marco em memória aos mortos. No caminho, familiares pararam e depositaram flores num pequeno monumento já erguido anteriormente em homenagem a esses espanhóis, como se fosse um cemitério (foto acima).



Neste dia, Alexandre (na foto acima) entrevistou um sobrevivente de 101 anos, ex-combatente das Brigadas Republicanas. O velhinho teve que fugir do regime militar e só não acabou num dos campos de concentração porque teve a sorte de não fazer o caminho dos que caíram na enrascada.

Nos dados, pesquisados pela gente, vimos que as precárias condições de vida no lugar chamaram a atenção da comunidade internacional. Entre os que se destacaram na defesa dos refugiados há nomes como Pablo Neruda, então embaixador do Chile em Paris. Ele conseguiu, naquele mesmo ano, “exportar” para o Chile 2.500 exilados. Outros tantos foram para o México e demais países latino-americanos.

Figura importante de La Retirada é uma enfermeira suíça. Elizabeth Eidenbenz conseguiu montar uma maternidade num antigo castelo abandonado, na cidade de Elne, onde nasceram 400 crianças, filhas de refugiados. Num lugar em que a taxa de mortalidade entre os recém-nascidos era de 90%, sobreviver ao parto já era um milagre. Muitos ainda estão vivos. E - até o ano passado - ela também, com quase 100 anos, morando na Suíça.

Hoje, esses lugares – onde havia campos de concentração - são balneários com belíssimas praias, iates e lanchas, frequentados pelas classes média e alta do sul da França. O cineasta catalão Manuel Herga estava produzindo um filme sobre a maternidade de Elne, com foco na bela história de Elizabeth. Se o longa-metragem cheguar aos cinemas do Brasil, a galera vai entender ainda melhor o que aconteceu – e como sofreram – estes espanhóis.

Obs.: Este post é 50% do Alexandre e os outros 50% divididos pela Marcelle e a Mafalda.

Um comentário:

  1. Marcelle, querida.

    Vocês, como sempre, me emocionam.

    Muitos beijos!

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