terça-feira, 16 de março de 2010

Pequeno manual de sobrevivência


A pedido do amigo Guilherme Freitas, vou contar nossas peripécias com o bidon, nos meses em que moramos na pequena e pacata Canet en Roussillon, sul da França. Bem, bidon nada mais é do que um galão, desses que o pessoal tem no carro pro caso de faltar gasolina. Lá, a função é outra e muito melhor. Para estar inserido na pequena sociedade canetoise, é preciso, de cara, adquirir o seu. Em seguida, o sujeito leva o seu galão à cave mais próxima e arremata por algo entre 1,50 e 2 euros/litro vinho direto do produtor.


Os olhos do Alexandre com a descoberta da venda de vinho au details (a bebida fica estocada em enormes reservatórios e é retirada por uma bica) brilharam como nunca. O cara pirou, por que não faltavam opções de caves, mercados e até produtores de vinhos da região – local de solo pedregoso, que produz não só tintos e rosés, como também um tipo de branco (Muscat) mais adocicado e servido como aperitivo.

Quando a Lia e o Guilherme – introduzidos ao nosso mundinho pelas amigas Vivian Rangel e Mariana Filgas - cismaram em morar em Canet (e não em Perpignan, como sugeri por email), cumprimos nosso papel. Demos dicas de onde morar, horário do ônibus, preços, tudo como manda o figurino. E, claro, não deixamos de lado a dica mais importante. “Meninos, comprem seu bidon!” Orgulhoso, Alexandre mostrou o nosso de dois litros e explicou como era feita a venda de vinhos por aquelas paradas. Na mesma semana, já era comum esbarrar com um dos dois pelas caves.



No princípio, eles usavam garrafas d’água – como também fazem alguns franceses. Guilherme só foi adquirir o seu em um dos passeios ao Chateau l’Esparrou, um belo castelinho produtor que fica à beira da estrada de Canet. E ainda humilhou o meu Alexandre: pegou logo um de três litros.

O resumo desta história, pra mim, é que amizade de bidon não é de brincadeira. Depois de instalados num belo apartamento na Vieira Souto de Canet, a dupla não cansava de nos fazer convites para bate-papos regados a vinho. De bidon, claro. Só víamos os engarrafados quando a Lia tinha convidados muito ilustres. No começo, ainda me sentia acanhada quando o Guilherme começava a bocejar, mas a cena passou a ser corriqueira e a resposta da amiga também: ‘deixa ele, a gente continua’. Intimidade conquistada, o casal Justo-Arruda cansou de matar o meu, o deles, os nossos bidons em conversas longas madrugada adentro.

Um comentário:

  1. Aliás, Guilherme, com os olhos brilhando, definiu a cena da mesa de vinhos surgindo em meio ao vinhedo com o lago ao fundo como "feliniana". E o bidon da foto é o dele, antes da "visita" à cave da fazenda.

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