segunda-feira, 22 de março de 2010

Somos todos brasileiros, graças a Deus!



“Nossa Senhora e Nosso Senhor Jesus Cristo estão acima. Os caboclos vêm abaixo, o meu é o Tupinaná”. Esta frase é de um sujeito boa praça que frequenta o salão vazio do Bar do Serafim, na rua Alice, aos sábados. A hierarquia religiosa do rapaz em questão é bem curiosa, mistura a Santíssima Trindade com o candomblé. Vai entender. Mas, cá entre nós, há no Brasil alguém que reze por uma só cartilha?


Nossa confusão é tão grande que até o IBGE resolveu ir a fundo na pendenga e vai lançar a campanha, para a enquete que será feita esse ano, cujo mote diz “Neste Censo, declare seu amor ao seu Orixá/Diga que é do Santo, diga que é do Gunzu, diga que é do Axé/Pois quem é de Umbanda, quem é de Candomblé/Não pode ter vergonha, tem que dizer que é!”. Quem sabe desta forma, as pessoas fujam da resposta fácil ‘católico’, e revelem de fato qual é sua crença.

Eu mesma, que me autodenomino católica, volta e meia me pego em pensamentos espíritas e, na ingênua ansiedade, já me consultei com várias cartomantes. Realidade mais que nossa, minha madrinha no catolicismo há tempos é budista e – acho eu – nunca soube rezar uma Ave Maria. Dane-se: ela faz parte de um seleto grupo, daqueles que se dão sem medidas ao amor ao próximo, repetido nas missas que eu muito frequentei rezadas pelos padres do Santo Agostinho, na Santa Mônica.

A minha confusão vai além: tenho certeza que os mortos estão sempre ao meu lado. Volta e meia, bato um papo com a antiga proprietária do meu apartamento e sempre senti a presença da minha avó quando morei na casa dela, depois de sua morte. Em outro momento, ocupei o apartamento de uma tia que partiu pra uma melhor, e também tinha lá minha certeza de que ela estava ali. E nunca senti medo, se elas vêm é porque querem estar perto de mim. Se fosse realmente uma católica fervorosa, teria certeza de que elas estão no paraíso e jamais voltariam pra falar comigo. Será?

Diz a Rô que sua mãe viu certa vez um homem negro, boa pinta com a cara boa, com as mangas da camisa dobradas na alturas dos cotovelos, observando as duas fazendo arrumações no armário. Não é que tempos depois, ela fisgou o Aluisio, sujeito com essas descrições? Tá, a Rô é mineira, conta que a mãe fazia os filhos ajoelharem pra rezar com a “palha benta” queimando pra espantar os raios durante os temporais. Eita povo estranho, sô! E depois dizem que lugar de sincretismo é a Bahia. Vai passar uma tarde com a amiga mineira pra ver quem tem razão.

Carioca clássica, minha sogra é do candomblé. Mas não tem santo dia que ela não me conte que foi batizada, fez comunhão e crisma. Muito depois, ela raspou com o santo, lá no terreiro, mas volta e meia está rezando numa igreja do Centro da cidade e não perde uma festa do dia de São Jorge. Além disso, acredita nos búzios e nas cartas. E, então, a sogra é católica ou macumbeira? Acho que a resposta certa é “ela é brasileira”.

Outro grande exemplo vem de um amigo que está longe, no Planalto. Arthur segue à risca a música de Raulzito: “já fui Pantera, já fui hippie, beatnik, tinha o símbolo da paz, pendurado no pescoço porque nego me dizia que era o caminho da salvação”. Hoje frequenta um terreiro lá pelas bandas de Brasília. Amanhã, sabe lá. Há até pouquíssimo tempo era Vicentino de não perder missa aos domingos.

Para resumir, só mesmo a frase brincalhona de outro amigo, o Caio, que, com um risinho irônico, se define: “Sou comunista, graças a Deus!”.

2 comentários:

  1. eheheheh. Quem sabe não dou uma passada agora no Santo Daime? ehehe. Axé e boas vibrações! Saudades!

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  2. Sou ecumenica e é só.Apelo pra todos os lados.
    "A cigana leu o meu destino, eu sonhei...bolas de cristal ,nome de santos..."

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