terça-feira, 2 de março de 2010

Tempestade no sul da França? Sei como é isso


Li neste fim de semana que uma tempestade horrível atingiu a França. Sei bem como é isso. Dia 24 de janeiro do ano passado, estava morando em Canet en Roussillon, nos Pirineus, fazendo Sociologia na faculdade de Perpignan. E, como não podia esquecer da labuta, peguei um frila da Abril sobre os pontos turísticos do país. Teria que destrinchar toda a Côte Vermeille, bem ali onde eu estava.

Aproveitando o fim de semana, eu e Alexandre (M’Arrudão para os íntimos) partimos para Port Vendres – onde prometiam os guias locais havia uma megafeira de artesanato, frutas, embutidos, vinhos sensacionais. Ou seja, belas fotos e muitas histórias. De ônibus, chegamos fácil, fácil. Três horas depois, trabalho cumprido, tentamos partir para o próximo porto, Banyuls Sur Mer, logo ao lado.

No ponto do ônibus, que faz toda a Côte Vermeille, ouvimos os primeiros sinais de que a situação não estava nada bem. A motorista que passou se negou a nos levar a qualquer lugar. Era catástrofe das brabas. Aos berros nos disse que não havia mais ônibus e que deveríamos ir para casa. Casa? A 40 km dali?

Preocupados, fomos para a estação de trem. Não havia viv’alma. E nem perspectiva. A tempestade já estava por ali e a eletricidade havia sido cortada. Sem saber o que fazer, voltamos para o Centro. A ventania começou a apertar. Depois, lemos nos jornais que a velocidade do vento chegou a 180 km/h. Nem os restaurantes permaneciam abertos. O que fazer?

Opa, perrengue é com a gente. Já acostumados a caminhar, fomos em direção a Collioure – uma Búzios local – procurar abrigo. No caminho, a tempête já nos arrastava (literalmente), pessoas procuravam abrigos até no cemitério e mal conseguíamos caminhar na estrada.

Em meio ao vendaval encontramos um supermercado (Lidl) com as portas semiabertas, sem luz e pedimos ajuda. As funcionárias chamaram o carro da polícia e pediram que nos levassem até o próximo hotel. Eles se negaram. Aí veio a situação dramática: o vento era tão forte que eu quase voei (ok, ok, estava com menos uns quilinhos). Os guardas, preocupados, meteram a gente dentro do carro e nos levaram pra Collioure. Lá, arrumamos um hotel pra dormir. Tudo fechado – nem vinhozinho na mochila e muito menos queijo. Collioure é mais resguardada do vento e, mesmo sem luz, as pessoas estavam nas ruas, meio “curtindo” aquela situação, vendo a “ressaca”. Quando a luz voltou à cidade, corremos pro mercado e fizemos uma compra quase bíblica: vinho e pão.

A tragédia estava só começando. A proprietária do estúdio onde morávamos telefonou e jogou a maior bomba do dia: “Com a ventania, o prédio pegou fogo, estou preocupada com vocês, onde se meteram? Acho, no entanto, que o nosso apartamento nada sofreu”. Ficamos eu e M’Arrudão, a quase 40 quilômetros de casa, sem saber se tudo o que tínhamos na vida estava queimado. No dia seguinte, 25 de janeiro, era aniversário dele. Voltaríamos de trem – antes de toda a confusão, havíamos pensado em fazer uma feijuca daquelas pra data.

Quem disse que o trem voltou? A nossa preocupação a mil, não nos permitia ficar naquela cidade linda, apenas contemplando. Decidimos pegar a estrada: a pé. Foram 35 quilômetros. Quase um dia todo de caminhada. A família ligou, deu os parabéns e mal podia entender o que estava nos acontecendo.

Ao chegar em Canet, fomos encaminhados pela polícia local ao nosso estúdio (todo negro de fuligem), onde apenas pudemos fazer uma pequena mochila e sair escoltados. O prédio foi interditado. E nosso destino foi um abrigo da prefeitura de Canet, onde moram idosos e hospendam-se policiais. Pas mal. Mas isso é uma outra história...

4 comentários:

  1. Bem vinda ao mundo digital. Bota uma fotito aí. :o)
    Alicia

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  2. Eu amei, amei, amei de coração. Serei sempre sua visitante. Escrever é coragem né? Ainda mais sobre a gente. Ainda não consegui, confesso. E admiro quem dá o passo. PARABÉNS!
    Clarissa

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  3. Caraca, que périplo! Apesar dos perrengues, veja pelo lado Pollyana: muita história pra contar e encher esse blog!
    bjs
    P.S. ADOREI o perfil!
    Carol Z

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  4. Filhs,ja sabendo de tudo,suei frio vendo tudo o que vcs. passaram e, niver do genro, sem uma cerveja,sem um copo de vinho,não da pra entender...graças a Deus este ano dia 25 foi bem comemorado.
    mameliana

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