sábado, 25 de setembro de 2010

Por que a comida sumiu das campanhas eleitorais?


A comida tinha papel fundamental nas campanhas políticas. Era batata ver o candidato fazendo graça com os possíveis eleitores comendo um churrasquinho de gato, um pastelão de feira, uma bela feijoada ou até a famosa – e não menos nojenta - buchada de bode.   

A máxima dos marqueteiros passou a faca nas refeições públicas de políticos postulantes a novos cargos com a intenção de evitar imagens patéticas dos caras de boca cheia.  Ou até – possibilidade mais absurda – pra eles não assumirem o cargo com barrigão.

Imagens mais limpas e, resultado, o cafezinho em alta. Tradição das campanhas mineiras, a bebida ganhou destaque nacional e é onipresente em todos os estados. Além de evitar o risco de uma foto esdrúxula, mantém o mínimo da identidade cultural brasileira. E nem assim os políticos estão livres de situações embaraçosas. Este ano, o cafezinho foi capaz de causar alvoroço nas campanhas dos presidenciáveis.  

Nada que divertisse. É pena, então, que o cardápio do brasileiro não entre mais na pauta eleitoral e que nós, eleitores, sejamos furtados no direito de saber o que come, quando e de que forma os futuros chefes da nação. Afinal, não há quem duvide que a comida está diretamente ligada à identidade social do cidadão.      

Será que a Dilma em suas novas medidas evita o torresminho mineiro e o churrasco gaúcho, pratos tradicionais de suas duas terras do coração? Outras dúvidas que não me saem da cabeça. Será que o Serra, cada vez mais parecido com o Dráuzio Varela, evita as gorduras trans e a carne vermelha, e ainda sofre muito com sua úlcera, que o fazia levar marmitas para as agendas externas (o que já o livrava dos quitutes mais ousados)? Não saberei. O máximo a que chegaremos, caso algum curioso nos conte, é se há espaço para o leite pingado nessa enxurrada de café escuro.    

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Os 2113 transes de uma seita em movimento

Há uma seita que segue silenciosa no Rio de Janeiro. Atraídos pela necessidade de alcançar um rumo na vida, todos passam pela experiência do transe. E mesmo que não gostem, acabam voltando, já que o caminho, apesar de tortuoso, leva a um objetivo comum. Entre os iniciados, é impossível não manter a cumplicidade: os contatos passam a ser constantes e a necessidade de informações sobre os companheiros é real, pois os percalços na longa jornada são muito comuns.


Assim como uma igreja evangélica, o dízimo é exigido. São R$ 4,70. Apesar do valor não fazer distinção de classes sociais, a viagem não é igual para todos e pode começar em diversos pontos, de acordo com a evolução cármica de cada indivíduo. Além da duração, a forma como cada pessoa enfrenta as provações difere. Mas todos, absolutamente todos, são unânimes: para alcançar o objetivo, há que ter sofrimento.

Depois que passam a fazer parte desta congregação – e mesmo sabendo que há outras formas, menos sofridas, de encontrar a luz -, os integrantes se pegam arregimentando novos integrantes. “Cruza as três pistas da Enseada de Botafogo. Lá você consegue.”

Neste cenário idílico do Rio de Janeiro, a oferta é farta. São três portas. Mas nem todos são aceitos numa primeira tentativa. Há que ter perseverança e se mostrar realmente decidido a ingressar. Após ser aceito, o novo integrante conforma-se e, como em todo processo interior, entremeia momentos fáceis e difíceis, com a certeza de que vai atingir a sua meta. Com atraso, mas vai.

Após a adesão, há quem tire proveito para reclusão na leitura, na música ou mesmo na fotografia. O ponto alto do transe é o encontro com Iemanjá. Mas não se engane: não se trata de candomblé. Só quem experimenta, entende.

• Para integrar temporariamente uma equipe de trabalho no Polo de Cine e Vídeo, ao lado do autódromo em Jacarepaguá, Marcelle Justo teve que pegar por 60 dias consecutivos a linha de ônibus 2113, no primeiro ponto da praia de Botafogo. Neste tempo, colecionou decepções, como ver o ônibus passar pela pista de fora e não a pegar; brigas entre os passageiros e o motorista e até motoristas que não sabiam o trajeto da linha, tendo que contar com o suporte de passageiros para chegar ao final.

• Um colega da mesma equipe presenciou o assalto de uma nota de 10 reais e, na mesma viagem, foi obrigado a saltar do ônibus porque o motorista se envolveu em um engavetamento.

• Outro colega, depois de uma coleção de minutos esquecido no ponto, teve que aceitar a carona de um ônibus qualquer que seguia apagado para a garagem e não permanecer definitivamente esquecido na avenida Abelardo Bueno.