segunda-feira, 5 de abril de 2010

Meninos também brincam de boneca?


Quando tentava me virar em Paris, no segundo semestre de 2004, peguei um trabalho de babá para cuidar de duas crianças: Anatole e Berrile. Ele de uns 5 anos, ela uns 2. Os pais, franceses do interior que trabalhavam em multinacionais na capital, não gostavam que seus filhos assistissem à TV e eu deveria levá-los pelo menos duas vezes por semana à biblioteca do bairro. Até aí, não me causava espanto. Afinal, os franceses têm arraigado o saudável hábito de leitura – até os mendigos pedem esmola entre uma lidinha e outra.

Causou-me estranheza constatar que o menininho tinha bonecas. E logo taxei: é bicha! Aos amigos pra quem contava, também o taxavam de viado. Será? Hoje, estou cada vez mais convencida: meninos podem e deveriam brincar de boneca.

Na TV francesa, cheguei a ver feiras de brinquedos com estandes onde os meninos aprendiam a cuidar de uma boneca, dar mamadeira, trocar a fralda. Passei a crer que este comportamento não produz nos filhos a tendência ao homossexualismo. E se produzir, que mal há nisso? Ok, ok, ainda não tenho filhos e pode ser que a pimenta nos olhos dos outros não me faça mal algum. E, apesar de defender a brincadeira de boneca entre os garotos, acho que travaria na hora de dar ao meu filho um exemplar da Barbie, símbolo de beleza americana e consumista, que acabou tornando-se símbolo gay.

Anatole, no entanto, não me sai da cabeça. Outro dia lembrei-me dele ao ver que a Folha lançou um livro abordando o assunto. Na matéria, os autores explicam que até a postura diante do brinquedo-boneca é diferente entre meninos e meninas.

Curiosa, fiz uma pesquisa na internet e encontrei uma polêmica mais antiga, de 2002, acerca do lançamento do livro “O Menino que ganhou uma boneca”. Um debate gigante por conta da história de um garoto que brincava de ser pai. Não consigo entender o porquê. Ora, o menino não brincava de ser mãe, e sim pai. Mesmo um pai homossexual desempenha o papel de pai, não de mãe. Além disso, todos os homens têm hoje papel fundamental na educação dos filhos, muitas vezes dentro de casa, dando a mamadeira, trocando as fraldas e embalando para dormir. Se só nós, meninas, treinamos na infância, fica duro pros caras encararem a paternidade, como nós – doces mulherzinhas – que tanto sonham com este papel.

Bom, eu não vejo mal em reverter a ordem. No meu humilde lar, quem berra por gol sou eu, não o marido; quem tem fissura em carro e adora dirigir sou eu; quem me ensinou a cozinhar foi ele. Por outro lado, também não deixo de lado os babadinhos, os milhares de enfeites, além do rosa predominar no meu guarda-roupas. Tanto blá-blá-blá moderno não me tira a certeza de que, na hora que um moleque adentrar a casa, vou ter muita dor-de-cabeça com Alexandre para convencer de que as bonecas – não as Barbies! - são muito bem-vindas, obrigada.

Um comentário:

  1. Estou com Alexandre,tambem não gostaria de dar bonecas a um neto, até porque não precisa de tanto treino para ser um pai atuante, como vem me provando a vida, com os pais mais novos, não lógico, os da minha geração.

    ResponderExcluir