terça-feira, 6 de abril de 2010

Qual sua origem?


Sábado, o Prosa e Verso trouxe uma entrevista com Marie NDiaye, ganhadora do Goncourt, o mais prestigiado prêmio literário da França, em 2009. O pingue-pongue pouco fala do livro que a fez ser vencedora. A tônica é o preconceito sofrido pela francesa por ser negra e ter pai senegalês, com quem só conviveu até um ano de idade. Nascida e criada no país, ela se ressente de agora ser taxada de escritora 'franco-senegalesa'.


Hoje, morando em Berlim, a escritora diz que tem 'horror' ao Sarkozy, que, segundo ela, incita este comportamento preconceituoso. Logo ele, filho de húngaros, como bem lembra a romancista na entrevista. Quando morei lá houve, inclusive, um episódio no qual um desses filhotes do presidente francês se volta justamente contra ele. Uma carta chega ao Eliseu com uma bala e, junto, um bilhete: “Húngaro sujo”. Prova do que ele tem cultivado naquele país.

Ao ler a entrevista, me lembrei de alguns momentos que passei por lá e da frase a que eu mais tive que responder: 'qual sua origem?'. Na faculdade de Perpignan, fui razoavelmente bem recebida pelos professores. Mas volta e meia sofria discretamente essa xenofobia que, não tem jeito, está incutida naquela gente. O mais curioso é que o preconceito vem muito mais dos jovens.

Por iniciativa de um professor, fui incluída num grupo de estudos sobre alunos que chegavam de outras cidades. Bom, eu era a única gringa do grupo. Era preciso fazer enquêtes para saber como se sentiam estas figuras. Pouco a pouco fui sendo excluída do grupo, de forma tão sutil que mal compreendia. Quando percebi, seria praticamente reprovada na matéria, simplesmente por que a coleguinha que puxava o grupo tinha dito ao professor que eu jamais tinha participado do trabalho, não respondia telefonemas e nem emails. Tudo mentira. A minha parte do trabalho foi jogada fora pelos pequenos Sarkos.

Acho também que há imigrantes bem aceitos que chegam a extremos. Um professor ‘franco-argelino’ me arrancou o dicionário (autorizado para não francofônicos) Le Robert durante uma prova por acreditar que eu estava colando. Fala sério, né companheiro? Euzinha, 35 anos de praia do Leblon, me ferrando, dura igual coco, pra fazer sociologia fora do país, vou colar? Não! Preciso de ajuda, aquela não é minha língua. Ele disse que eu não poderia ter a regalia de consultar o dicionário. Pode não ter sido nada, mas... eu acho que era.

Fora isso, em um ano de convivência, a única que me convidou pra conhecer sua casa foi a colega da Nova Guiné. Uma negona gente boa, bem estereótipo cheia de turbantes e roupas coloridas. E a professora que ficou chapa e ajudou mesmo chama-se Antígona. Ora pois, uma grega com certeza.

obs.: A foto foi tirada no campus da Universidade

2 comentários:

  1. stas coisas vc. nunca me contava.Ainda bem que vc. voltou!!!!!!

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  2. Tb li a entrevista e fiquei pensando como no Brasil todo mundo é simplesmente brasileiro. Embora haja outros tipos de segregação...

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