Há uma seita que segue silenciosa no Rio de Janeiro. Atraídos pela necessidade de alcançar um rumo na vida, todos passam pela experiência do transe. E mesmo que não gostem, acabam voltando, já que o caminho, apesar de tortuoso, leva a um objetivo comum. Entre os iniciados, é impossível não manter a cumplicidade: os contatos passam a ser constantes e a necessidade de informações sobre os companheiros é real, pois os percalços na longa jornada são muito comuns.
Assim como uma igreja evangélica, o dízimo é exigido. São R$ 4,70. Apesar do valor não fazer distinção de classes sociais, a viagem não é igual para todos e pode começar em diversos pontos, de acordo com a evolução cármica de cada indivíduo. Além da duração, a forma como cada pessoa enfrenta as provações difere. Mas todos, absolutamente todos, são unânimes: para alcançar o objetivo, há que ter sofrimento.
Depois que passam a fazer parte desta congregação – e mesmo sabendo que há outras formas, menos sofridas, de encontrar a luz -, os integrantes se pegam arregimentando novos integrantes. “Cruza as três pistas da Enseada de Botafogo. Lá você consegue.”
Neste cenário idílico do Rio de Janeiro, a oferta é farta. São três portas. Mas nem todos são aceitos numa primeira tentativa. Há que ter perseverança e se mostrar realmente decidido a ingressar. Após ser aceito, o novo integrante conforma-se e, como em todo processo interior, entremeia momentos fáceis e difíceis, com a certeza de que vai atingir a sua meta. Com atraso, mas vai.
Após a adesão, há quem tire proveito para reclusão na leitura, na música ou mesmo na fotografia. O ponto alto do transe é o encontro com Iemanjá. Mas não se engane: não se trata de candomblé. Só quem experimenta, entende.
• Para integrar temporariamente uma equipe de trabalho no Polo de Cine e Vídeo, ao lado do autódromo em Jacarepaguá, Marcelle Justo teve que pegar por 60 dias consecutivos a linha de ônibus 2113, no primeiro ponto da praia de Botafogo. Neste tempo, colecionou decepções, como ver o ônibus passar pela pista de fora e não a pegar; brigas entre os passageiros e o motorista e até motoristas que não sabiam o trajeto da linha, tendo que contar com o suporte de passageiros para chegar ao final.
• Um colega da mesma equipe presenciou o assalto de uma nota de 10 reais e, na mesma viagem, foi obrigado a saltar do ônibus porque o motorista se envolveu em um engavetamento.
• Outro colega, depois de uma coleção de minutos esquecido no ponto, teve que aceitar a carona de um ônibus qualquer que seguia apagado para a garagem e não permanecer definitivamente esquecido na avenida Abelardo Bueno.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
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