terça-feira, 25 de maio de 2010

Bodas de açúcar


Daqui a 15 dias, eu e M’Arrudão completamos quatro anos do casamento civil. De fato, já estamos juntos há seis e é o que a gente conta para o público. Um dos motivos é que nesses dois anos antes da festa junina, com direito a um juiz de verdade, vivemos em Barcelona uma experiência deliciosa.

Juntos, adentramos o Palau de la Musica Catalana e assistimos ao último show de Ibrahim Ferrer. O cubano, famoso por conta do Buena Vista Social Clube, já estava muito debilitado, o que não impediu nosso deleite naquele lugar lindo ao som de uns boleros sensacionais. Acho que o espetáculo mais sublime da minha vida.


Foi também nessa temporada que conhecemos a cidade de Sant Sadurní D’Anoia, capital da cava, o espumante espanhol (foto acima). Mal informados, chegamos tarde e não conseguimos fazer as visitas tradicionais. O jeito foi percorrer a pé caminhos alternativos e roubar muita uva das plantações. Na volta, encontramos uma cave aberta, onde a degustação da bebida é feita em torno da churrasqueira comunitária. Nunca tínhamos visto esta combinação: champanhe e churrasco, e, óbvio, não tínhamos os insumos pro almoço. Vendo que éramos gringos, o moço deixou a gente comprar duas garrafas, sem termos levado a carne (que não era vendida no local).

A pé também chegamos ao castelo da Gala, mulher de Dalí, na pequena Púbol. Mais uma vez, por falta de comércio aberto no domingo na pequena cidade de pedra, tivemos que nos virar com frutas colhidas das árvores, no bosque lindo que liga o castelo e a estação.

Aliás, o dia de passeio era ‘o domingo’. Num deles, M’Arrudão cismou – mesmo com a minha recusa - em ver uma tourada. Por um bom tempo, o dinheiro que tínhamos era para UM passeio por semana. E este montante se foi nas entradas. Ao ver o primeiro touro espetado, ele me disse: ‘vamos embora’. Ainda se acostumando ao meu jeito, M’Arrudão teve que ouvir o ‘tá maluco?!’. Ficamos até a metade do 'espetáculo', já que não teríamos dinheiro para outra incursão. Mas deu tempo dele vibrar com a revanche do touro sobre o toureiro. E ser o único a comemorar na arena.



Outro grande momento foi a minha descoberta de que a vida de acampamento é um barato! De mochilão nas costas, percorremos a Costa Brava, conhecendo balneários singulares, como Tossa de Mar e Cadaqués (foto acima). Num deles, ao lado de uma dupla de amigos, já encharcados de vinho, arrumamos confusão com um argentino chato que teimava em dormir. Qué raro dormir em cenário tão sensacional, não é mesmo?

Por uma vontade de fazer xixi antes da praia desejada, Helena nos fez saltar do trem em Vilassar de Mar. Garota esperta, essa Helena. Parecia que estávamos numa praia do interior do Ceará com barquinhos de pescadores. À noite, participamos – por puro acaso – de uma festa local com sardinha feita em churrasqueiras comunitárias espalhadas nas areias. E dessa vez conseguimos comprar os peixes em saquinhos plásticos, vendidos junto com pa amb tomaquet (ou simplesmente, pão com tomate catalão).



Não foi só. Minha ginástica era andar de patins no porto de Barcelona (uma das vistas na foto acima), esse que serve de modelo para os sonhos olímpicos cariocas. Nos tornamos Barça desde pequenininhos, comemos fuet em profusão, queijo curado, jámon serrano e vivemos a vida de pensão (já descrita em post anterior). Tudo sem muita pretensão, sem muito compromisso com o dia seguinte. A gente ia vivendo, trabalhando em loja, comendo, bebendo, falando sobre outra realidade, tão distante e tão diferente do Rio, onde há uma cobrança mais rígida do amanhã.


Falar de Barcelona é como reviver uma lua-de-mel, que acabou sendo em Buenos Aires, depois dos festejos juninos de 10 de junho. Pena é que, há quatro anos, Mafaldita ainda não estivesse sentada no banquinho em San Telmo, e a gente ainda imaginava que batizando minha empresa de ‘Vilassar de Mar’ repetiríamos o sucesso na tarde ensolarada da Catalunha.

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