quinta-feira, 11 de março de 2010

A culpa é do Maneco




Manoel Carlos sempre foi meu novelista preferido. Seu cenário é o Leblon – bairro onde cheguei com 4 anos e saí com 27. Atualmente moradora de Laranjeiras, sinto saudades de lá. E lamento, do fundo do coração, cada vez que as construtoras ganham a batalha contra as APACs.

É certo que não vejo mais o meu Leblon, agora cheio de nouveau riche e artista de fama repentina. O máximo das glórias, no meu tempo, era ter como vizinhos o casal Lucinha e Ivan Lins. Até tinha milionários, mas eles não eram maioria. Havia de tudo, os endinheirados, que não gostavam da Barra ou achavam Ipanema muito liberal, e os classe média-média, funcionários do Banco do Brasil ou militares, que se espalhavam pelo condomínio dos jornalistas, a Selva de Pedra e os belos predinhos sem elevador. 

A gente frequentava Lucas, Panelão, Degrau, Bozó, Final do Leblon. Vai procurar um desses agora? Resta um ou outro e sempre com aquela cara de ‘estou-tentando-me-modernizar’. No lugar dos antigos, reinam absolutos os chefs grifados pra quem pedir um escalopinho com arroz à piamontesa soa como ofensa. E tome espuma de salmão pra lá, macarrões de palmito pupunha pra cá. Podem me chamar de recalcada, afinal deixei a praia e a água mais perto a que tenho acesso é a piscina do Fluminense. Dou de ombros, gostava da joalheria que consertava relógios na Ataulfo, das lojinhas de sapato onde comprei minhas primeiras Melissinhas, da livraria Argumento pequenininha, sem frescuras. O comércio está todo diferente. No lugar de temakerias, yogoberrys, lojas multimarcas, a gente tinha mais armarinho, sapateiro, loja de ferragens, de tecidos.

Isso sem contar com as casas, antiguinhas bem ao estilo que luta em persistir até hoje na Urca. No meu caminho entre minha casa (aliás, uma delas), na rua San Martin, e a academia de balé, na Dias Ferreira, passava em frente à casa dos sete anões na Rainha Guilhermina. Saudosismo? Pode ser. Devo, no entanto, esquecer: o Leblon cresceu, apareceu e tornou-se bairro de PIB norueguês. Os preços são todos astronômicos.

Dizem as más línguas que a culpa é do Maneco. Dou risada, pois não acredito – ou só um pouco - que ele tenha responsabilidade pela descaracterização do bairro. Mesmo assim, tenho sentindo uma ponta de raiva do meu novelista preferido. A causa é a nova rotina que ele introduziu na minha vida: com aqueles depoimentos, choro compulsivamente todos os dias no final do capítulo de Viver a Vida.

obs.: ok, ok, a foto não é 'da minha época' do Leblon.

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