sexta-feira, 19 de março de 2010

Inteligência pra dar e vender


Há uma frase dita pela minha irmã, Danielle, uma bacharel em direito, que tem martelado na minha cabeça nos últimos tempos. “Há outros tipos de inteligência, além dessas que vocês jornalistas consideram”. Velha rixa, jornalista versus advogados? Alexandre, roxo de raiva, me diria que sim. Apesar das diferenças na formação acadêmica, acho que a Dani tem lá sua razão.


Como repórter, atuei nas áreas de cidade, cultura, TV, informática (sic!), turismo, e lá atrás tive um pouco de contato com a complicada economia. Como lição dos editores, aprendi que meu dever era escrever sem complicações pro leitor. Se a gente levar em conta que muitas dessas funções desempenhei em jornais populares, o ‘descomplicar’ é ainda mais profundo.

Daí, me peguei em 2010 cheia de planos de mudança. Não pela primeira vez, pois entre 2008 e 2009 fiz a conclusão do curso superior de sociologia. E a verdade para os profissionais desta área é muito distante da jornalística. Lá, apaixonada pela volta aos estudos, mergulhei de cabeça. Morria de rir porque nos trabalhos acadêmicos você tem que problematizar as situações. Cuma? A ordem nas redações – a minha verdade - é “traga-me soluções, e não problemas”, o famoso "se vira". Como estava longe da faculdade há uns 10 anos, pensei: este é um outro tipo de inteligência. Ponto pra Dani!

Passado um tempo, um trabalho aqui, outro ali, me peguei querendo aprender leis para desempenhar uma função bacana no recém-criado Instituto Brasileiro de Museus, que abriu dezenas de vagas pelo país. Pra entrar, através de concurso, tem que saber direito administrativo. A minha apostila diz que é direito dos funcionários públicos faltar ao trabalho por dois dias para se alistar como eleitor. Este é, sem dúvida, um outro tipo de inteligência que eu ainda não alcancei. Então para entrar no serviço público não é preciso ter 18 anos, um título de eleitor e estar em dia com as obrigações com a Justiça eleitoral?

Além das apostilas de direito, por que nem tudo são flores no meu mundo, me encontro emburacada num frila onde o assunto é o mundo corporativo (e que, por sinal, não me dá tempo de estudar para o tal concurso bacana). Sabe qual é uma das minhas maiores dificuldade? Nas entrevistas, os caras mesclam palavras em inglês como se fossem sinônimo de português, no estilo "os papéis foram negociados no spot chinês em vez do bench mark padrão, durante o rump up de 2009". TODAS as palavras e expressões têm tradução para a tão cara língua de Camões. Por que diabos então os caras falam em inglês? E pior: misturando as duas línguas, lembrando aquelas cenas patéticas da novela A Indomada, na qual os personagens metiam o inglês no português, sem perder o sotaque nordestino.

Cheia de razão, a Dani certamente me diria: “Viu, há muito mais coisas a entender no mundo do que pensam vocês, pobres jornalistas!” E o pior disso tudo é que, cada vez mais, dou o braço a torcer.



Um comentário:

  1. Senhora Mafalda ou senhora Marcelle, a senhora não mudou nada, pois desde de pequenina sempre foi crítica,muitas vezes com razão como agora, no que acabo de ler...mas a vida vai lhe mudar pois de nada vale dar murros em ponta de faca.
    Mameliana

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